quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Bicicletas passam vermelhos a alta velocidade - A PROVA

Esta semana decidi parar por breves minutos numa passadeira de Alcântara e filmar o que acontece quando cai o sinal vermelho para quem circula na estrada. Rapidamente obtive as imagens que provam a perigosidade das bicicletas a passar vermelhos, um grave problema da segurança para peões. Finalmente, a prova que faltava da rebaldaria que por aí vai.

Confiram o primeiro vídeo:



Viram as bicicletas? Eu também não, pelo que repeti de imediato a gravação, porque algo de anormal terá acontecido:




E agora, viram-nas?? Mas que raio, onde é que elas se escondem?

Esperem, já percebi! Elas estão tapadas pelos automóveis e motas que, vendo um ciclista a preparar-se para passar um vermelho a alta velocidade, aceleram e colocam-se ao seu lado de forma a proteger potenciais crianças e outros peões indefesos do perigo do embate, assim lhes batendo primeiro. Toda a gente sabe que um automóvel com aquela chapa toda é um amortecedor natural de embates contra pessoas.

Estes automobilistas estão a oferecer a chapa ao manifesto no mais puro desprendimento, em benefício do peão.  E ainda por cima, sem que se perceba, porque ao olho desatento parece que são eles quem estão a cometer uma infracção/crime/estupidez (escolham um).

E os ciclistas, lá continuam, impunes. É bárbaro, o nosso país.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

(Demonstrar a falácia do IUC para bicicletas) É desprestigiante, disse ele.

Os comentários nas redes sociais nunca cessam de nos surpreender. No caso da promoção da utilização da bicicleta como meio de transporte e da melhoria das condições subjacentes, ocorre normalmente uma inflamação de opiniões superior à das notícias sobre aumentos de impostos. A desinformação e o achincalhamento são aqui normais.

É compreensível. Mandar um petardo a fingir de argumento é fácil, rápido e tem um potencial de estrago razoável, especialmente se repetido e disseminado. Lança a confusão, a dúvida e para rebater é sempre preciso tempo e esforço para desmontar o que em bom português não passa de Lógica da Batata, que tanta escola faz neste canto ibérico.

Mas descubro que é ainda mais grave o problema e que, afinal, não basta responder à desinformação como tentei no post anterior. Não, demonstrado o ridículo da acusação do não pagamento de Imposto Único de Circulação por parte das bicicletas, perdão, velocípedes, vem o Rui Gomes na caixa de comentários queixar-se que afinal este é um não-assunto:


Curioso mas nunca vi ninguém em fóruns de rsocial, pelo menos que merecesse algum credito, a tecer qualquer comentário, depreciativo pelo fato das bicicletas estarem isentas ao IUC. portanto é um tema que não é tema... e pelos vistos também só serve para alimentar e até em desprestigio levantar essa questão no sense a quem nunca tinha ouvido comentar."

Portanto, está aqui o Rui Gomes a dizer que eu perdi o meu tempo e prestígio a ilustrar o ridículo do IUC para bicicletas, perdão, velocípedes, pois nunca ninguém tinha tecido qualquer comentário nesse sentido nas redes sociais.

Desconheço os fóruns de redes sociais frequentadas pelo Rui Gomes, se se trata do Clube Golf Portugal, do Canaricultura Tuga ou o Café Central, no Penteado:



Matraquilhos! Quem não gosta de matraquilhos? 
E fica no Penteado, pelo que _______________ - espaço para o vossa piada preferida, deixo à liberdade de cada um


Mas naquilo que entendo por "fóruns de redes sociais", deixo-vos alguns exemplos:








Nos comentários a uma notícia do Jornal de Notícias




Comentários a um artigo do jornal Público



Este comentário abaixo, na mesma notícia do Público, é um dos mais preciosos que já li. Veja-se o esforço que o seu autor faz para justificar que as bicicletas têm impacto ambiental elevado: Circulando mais devagar fazem com que os automóveis tenham que travar e portanto estes últimos perdem velocidade, tendo que voltar a acelerar para recuperar essa velocidade. Com isso produzem mais CO2, por culpa das bicicletas. É de génio!


"Por fim, e pegando nesta citação: "O IUC serve para mitigar os custos dos impactos ambientais e sociais que o tráfego rodoviário acarreta e não apenas para a construção e manutenção das infraestruturas viárias(...)". Quero insistir no exemplo das bicicletas a circular na Marginal, onde os carros circulam a 70Km/h (ou mais, já fora da legalidade) e do embaraço ao trânsito que os vários ciclistas que a povoam (quase todos em âmbito desportivo, e quase nunca na óptica da mobilidade) tendem a causar. Há um grande impacto social nos automobilistas e nas situações perigosas que originam, e há um maior impacto ambiental devido à quantidade de carros que têm que travar e voltar a acelerar depois de os ultrapassar."


Seguindo esta lógica, deveríamos estar todos a lutar pela abolição das passadeiras. O pára/arranca do automóvel por causa dos atravessamentos de peões provoca aumento da poluição. Estes deviam atravessar apenas quando não tal não obrigasse um automóvel a travar. 

Aliás, há uma grande desfaçatez em quem quer andar a pé, com a mania que é mais "verde", pois reivindicam o espaço público com passeios e praças que podiam muito bem ser reservadas ao estacionamento automóvel, facilitando-o. Já viram quanta poluição é causada por automobilistas a andar às voltas à procura de estacionamento, por o espaço ter sido reservado para peões (que mais não fazem do que passear, veja-se)? Eu pensava que o excesso de poluição na Avenida da Liberdade que levou à instauração de um processo europeu era causado pelo excesso de tráfego, mas agora percebo que é pelo excesso de passadeiras. Fico muito grato por terem trazido luz e razão a um problema desta dimensão.


E chega, que já me dói o cérebro.


Mas atenção que o comentador Rui Gomes previu que eu pudesse achar umas dezenas de comentários a comprovar que o não pagamento de IUC é uma das acusações feitas a quem apenas pretende andar numa bicicleta, perdão, velocípede. E logo acrescentou que nunca viu "ninguém... pelo menos que merecesse algum crédito" a fazer tal defesa. Portanto, para a defesa do IUC ser relevante, não bastaria que a sua imposição fosse proclamada por dezenas de pessoas que se deram ao trabalho de o escrever nos ditos fóruns, tinha de ser por gente "com crédito".

É evidente que, se eu alinhasse na mesma ilógica, a resposta natural ao comentário, seria a de que eu não sei quem o Rui Gomes é, e portanto não me merece qualquer crédito pelo que bem pode falar e comentar à vontade. Mas, nestes termos, responder-lhe seria "desprestigiante" dentro da lógica que proclama, e portanto fiquei calado. 

Agradeço o cuidado que o Rui Gomes tem com o meu prestígio, alertando-me para o "no sense" do meu artigo, mas na verdade eu não tenho prestígio algum. Ou tenho? É que o Rui Gomes comentou, dando afinal relevância ao que escrevi. Estou baralhado, é melhor parar por aqui.


sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

IUC - Imposto Único de Circulação e a isenção das bicicletas.

Os média estão ao rubro com as recentes alterações ao Código da Estrada. Eu tenho querido muito escrever sobre isso aqui, a sério. Mas depois leio os comentários às notícias e dá-me mais para rir. E chorar.

Uma acusação típica de muitos fóruns ou redes sociais é o pagamento de Imposto Único de Circulação de que as bicicletas estão isentas (o código chama-lhes velocípedes, porque o código é muito erudito). No meio de troca de argumentos (cof cof...) sobre a utilização da bicicleta como meio de transporte, há sempre o momento em que a fava é trincada com toda a convicção:

"Então mas se as bicicletas andam na estrada, porque é que não pagam o Imposto de Circulação??"

Pronto, está lançado o caos. As bicicletas não deviam poder circular, porque não pagam Imposto. Eu chamaria a isto inveja, mas na verdade é burrice porque estão a dizer que querem perder um benefício que também os atinge, visto que qualquer um pode possuir e conduzir uma bicicleta. E a grande maioria já o fez, mesmo que com 5 anos.

Mas vamos tomá-los a sério por cinco minutos. O que é que diz, afinal, a Lei sobre o IUC? Eu sou um tipo das leis, tinha que ir ver:

Capítulo I 
Princípios e regras gerais 

Art.º 1.º
Princípio da Equivalência

O imposto único de circulação obedece ao princípio da equivalência, procurando 
onerar os contribuintes na medida do custo ambiental e viário que estes provocam, 
em concretização de uma regra geral de igualdade tributária.
...

Art.º 5.º
Isenções

1 - Estão isentos de imposto os seguintes veículos:
...
d) Veículos não motorizados, exclusivamente eléctricos ou movidos a energias
renováveis não combustíveis, veículos especiais de mercadorias sem
capacidade de transporte, ambulâncias, veículos funerários e tractores
agrícolas;"



Quer dizer que o IUC se destina a obrigar quem adquire um veículo a motor a uma compensação pelo custo ambiental e viário que provocam. Ora então, vamos imaginar por uma loucura de segundos que se aplicava o mesmo princípio às bicicletas. Qual seria o valor a aplicar?

Ora neste simulador, ficamos a saber que uma mota com 125cc (poupando-vos trabalho, é a Tabela E) pagará em 2014 €5,49. Uma 125cc é o veículo mais simples que pode ser taxado ("O quê, abaixo disso também não pagam? Fim aos ciclomotores nas estradas JÁ!!"). Será dos que menos poluí e menor impacto na rede viária tem. Mas ainda assim são máquinas para pesar uns 180kg e sempre funcionam a motor, pelo que poluem bem mais que praticamente zero, que é o que polui a bicicleta.

Numa conta simples, uma bicicleta pesará cerca de 10 vezes menos que a mota 125cc (18kg, umas pesam mais mas a maioria pesa menos). Se pesa 10 vezes menos, o IUC também deve logo, à cabeça, ser 10 vezes menor, porque o desgaste na via tem essa proporção:

Resultado: €0,549 de IUC.

Mas tendo em consideração o custo ambiental, este valor tem ainda que ser reduzido, porque a bicicleta, não funcionando a motor, produz bem menos de metade da poluição num mesmo percurso. Talvez 2%, considerando pneus, óleo na corrente e desgaste das peças.

Ora 2% de €0,549 são... €0,01098, que é como quem diz UM cêntimo. Um cêntimo?? Seria este o valor proporcional do IUC de uma bicicleta e é por ele que tantos fazem tanto barulho? É realmente importante cobrar um valor inferior ao custo da folha onde imprimiríamos o comprovativo de pagamento (Ouch, mais um custo ambiental - cinco milhões de folhas no mundo)?

Ah, e 5 milhões de bicicletas X €0,01098 = €54.900,00. Presumindo que alguma vez haveria o registo dessas cinco milhões de bicicletas, claro. Cinquenta e quatro mil e novecentos Euros. Dá para tapar uns 200 metros de buracos na estrada, presumindo que a burocracia do Estado não gasta mais do que cobra, que seria o mais provável.

Já agora, vejam na alínea e) do referido art.º 5.º do Código do Imposto Único de Circulação quem mais está isento: Os táxis. Sim, os táxis a motor não pagam pelo impacto que causam na via e na poluição que provocam. Mas as bicicletas, meus amigos, essas marotas, não lhes perdoem!

Por mim, para não me chatearem mais, até pago já os meus sete cêntimos, só para não ter que os ouvir. Onde é a caixa de pagamento?